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FERIDAS

Diante das penas baixas nos casos de cibercrimes contra as mulheres e da escassez de estatísticas públicas, pode-se concluir erroneamente que os danos causados às vítimas no virtual são inferiores aos decorrentes de agressões físicas. Contudo, a psicóloga da SaferNet Brasil, Bianca Orrico, destaca uma série de consequências que têm o potencial de impactar profundamente não apenas a vida da mulher, mas também daqueles que a rodeiam.

 

“Elas sofrem traumas psicológicos, como transtorno de estresse pós-traumático, que pode ter efeitos negativos e podem gerar outros problemas de saúde. Além da depressão, ansiedade, distúrbios do sono, sentimentos de desamparo e culpa”, sinaliza a psicóloga. Ainda, pode prejudicar a capacidade de realizar atividades diárias, como: trabalhar, estudar, ter relacionamentos saudáveis e até mesmo cuidar de si. 

 

No caso da exposição de imagens de nudez, por exemplo, as vítimas chegam muito envergonhadas à Sala Lilás, revela a superintendente da GM de Campinas, Cristina Borin. “Os agressores usam o conteúdo para fazer chantagem. E, muitas vezes, pela vergonha elas se submetem à situação imposta”, conta. Isso porque é difícil romper o ciclo da violência – onde se repetem sucessivamente as agressões físicas e psicológicas, seguidas de períodos de reconciliação e afeto, para então retornar ao um próximo episódio de hostilidade.

 

 

 

 

 

Existem vários motivos que dificultam que a mulher consiga quebrar o ciclo de violência. Anna Christina Bentes, coordenadora do Núcleo de Estudo de Gênero PAGU, esclarece que os fatores estão relacionados com questões socioeconômicas e as estruturas de dominação que é fundamental para a manutenção da brutalidade. Ela pontua que essa configuração incorporada é muito difícil de ser questionada e são reforçadas simbolicamente, por meio de músicas, cinema, histórias, convenções sociais e outros. 

A superintendente Cristina Borin, sublinha que as mulheres que rompem o ciclo de violência, acabam expostas pelos ex-companheiros, caem num cenário delicado, dificultando o acolhimento e exigindo um grande empenho no processo de recuperação. A advogada Christiany Pegorari assinala que um dos fatores que agravam a situação é que, mesmo após a vítima recorrer a medidas judiciais para conseguir remover o conteúdo online, não significa que mais tarde ela não poderá voltar a ser exposta novamente por outros usuários que tenham salvado suas fotos. 

“A repercussão é muito maior para a vítima mulher do compartilhamento de uma cena de nudez. Toda repercussão, replicabilidade, alcance e permanência na rede geram impactos no âmbito social, familiar e profissional", alerta a especialista em Direito Digital, destacando que isso ocorre devido à cultura patriarcal da sociedade brasileira, onde a moral feminina é frequentemente ligada à sexualidade. 

 

As mulheres que têm a possibilidade, às vezes, decidem sair da cidade, estado ou, até mesmo do país, após um episódio violência, para escapar da repressão social e dos riscos à vida – já que a maioria dos feminicídios acontecem após términos. A Guarda Municipal de Campinas (SP) alega que essa fuga justifica o número tão rotativo de vítimas assistidas pelo programa Guarda Amigo da Mulher (GAMA). 

“Então você fica morto em vida, porque você tem que sair do lugar onde você sempre esteve e transferir toda a suas relações sociais para outro país. E como a internet é uma rede mundial, a vítima pode ser rastreada, inclusive fora do país, então é muito violento”, alerta Iara Beleli, pesquisadora do Núcleo de Estudo de Gênero PAGU/Unicamp.

Diante das situações impostas a elas, a psicóloga da SaferNet Brasil explica que, por vergonha ou medo, muitas vítimas se isolam de amigos e familiares e enfrentam uma série de consequências que as prejudicam na recuperação do trauma: “Além do medo de interagir online novamente, em algumas situações podem ter dificuldades de autoestima e problemas para conseguir estabelecer vínculos de confiança com outras pessoas”.

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Informações retiradas do blog da Deputada Cida Ramos

Do real ao virtual: a relação da violência      doméstica com as agressões na web    

Do real ao virtual: a relação da violência doméstica com as agressões virtuais
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